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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Praça Virtual




As palavras abaixo foram enviadas pelo meu pai. Acho que muitos podem concordar com ele.


Lembrei de te falar de uma constatação que fiz há alguns anos, da qual, quero crer, poucos se apercebem:

A democracia foi inventada na praça, porque os cidadãos atenienses, poucos em relação à população de escravos, mulheres e estrangeiros, costumavam destilar o seu ócio criativo na praça (ágora). Entre uma conversa e outra, descobriram que podiam dispensar o serviço do governante e decidir eles mesmos em assembléia sobre as grandes questões, deixando ao Rei um papel meramente simbólico.

O Iluminismo recuperou a ideia clássica da democracia ateniense, mas como já então se tratava de dar a cada cidadão uma fração ideal do poder (um homem, um voto - mas ainda não às mulheres) e não havia uma praça onde coubessem todos, foi necessário inventar a representação local, proporcional, distrital, corporativa ou nacional, de eleitos que se reuniriam para deliberar e formar governos com o aval dos eleitores.

Pulando já para o presente: a democracia representativa faliu. E já faz um tempo. Isso se traduz, na prática, pelo deficit de representatividade sentido pela maioria. Os governantes e o congresso sempre representam minorias que os usam para explorar o povo, em todo o mundo. Há pouca diferença em termos práticos do que acontecia sob o regime absolutista do Rei que era dono de tudo. Agora são os plutocratas que manipulam os cordéis dos fantoches eleitos.

Isso tudo estava funcionando muito bem, nas "democracias" e nos totalitarismos espalhados pelo mundo, mas algo começou a acontecer: em todos os lugares as pessoas começaram a ficar cada vez mais inseguras quanto ao futuro, ao constatar que a promessa de prosperidade para todos (dos capitalistas e de tudo o mais que se não é ditadura do mercado é ditadura de alguns) é uma mentira. Os jovens não conseguem empregos depois que se formam, e o fato é que em qualquer lugar do mundo o desemprego é maior entre os jovens, mesmo onde se verifica o quase pleno emprego, como no Brasil.

Some-se a essa insegurança a explosão da conectividade. O que os cidadãos gregos fizeram lá na praça de Atenas, os jovens estão fazendo hoje na Internet, que se tornou uma praça virtual. Bom, agora ficamos sabendo, das arábias até o Brasil, que a membrana (vamos chamar essa membrana de versão oficial dos fatos) que separa o virtual do real é tênue.

Ou seja, Ana, o sistema de poder é mais virtual que a rede de murmúrios da nuvem. Só agora sabemos disso com certeza.

Daí o próximo passo. Talvez eles descubram que não precisam mais do Rei. O que está faltando para isso? Certificação digital para todos os que entram na rede e queiram identificar-se como cidadãos.

Logo, portanto, será possível que a democracia volte a ser direta, exercida a partir de uma ágora virtual.

Eu mesmo pensei que muita coisa era impossível no Brasil, a principal delas que a cidadania conseguisse sair da passividade sem ser guiada por um líder carismático com uma causa simplista.

Se eu me enganei nisso, pode ser que eu acerte quanto à democracia direta exercida na praça virtual. Ela seria melhor do que o povo na rua.

Sobre opiniões dissidentes e bandeiras nas ruas

Essa foto foi tirada do blog Rodomundo e é da Marcha pela Liberdade em Junho de 2011


Não é fácil mesmo viver em uma democracia. É uma das coisas mais difíceis que tem.
Eu, como uma boa nerd, gosto de Star Wars, acho que muitos aqui gostam. É um filme com suas qualidades e defeitos. Mas tem uma cena que eu ODEIO, hehehe... acho que é uma das cenas de romance mais toscas que já vi. Anakin e Padmé em um picnic num campo florido. Acho que vocês sabem do que estou falando. Bom, mas ali eles discutem uma coisa bacana, que não sei se todo mundo viu. O Anakin diz que talvez se não houvessem tantos planetas no senado ou se tivesse um líder mais forte, tudo seria resolvido e a guerra acabaria. A Padmé diz que esperava que ele estivesse brincado. Um conselho amiga, se o cara é autoritário ele pode acabar te matando e deixando seus filhos orfãos, hehehe.

Mas sem brincadeira, ele diz algo que alguma vez na vida já pensamos, mas costumamos não dizer, seria mais fácil se algumas vezes não tivéssemos tantas vozes. Não precisaríamos ouvir um babaca como o inFeliciano. Não teria gente que vota em corruptos, não teria gente que vota em ruralista... aliás, não teria gente que VOTA.

Aí que está o problema. Ouvir vozes dissonantes é difícil pra caramba. Entrar aqui no facebook e ser criticada é difícil. Mas eu prefiria que todos concordassem comigo? DE JEITO NENHUM!

Uma vez disseram "prefiro vozes críticas da democracia ao silêncio da ditadura", e eu concordo plenamente.

Mas somos jovens, uma democracia mais jovem ainda, com parte da juventude que só acordou para o debate democrático agora. Acordar é uma sensação incrível, mas devemos saber que não sabemos tudo, que são as vozes dissonantes que fazem com que sejamos maiores e melhores.

Bandeiras em manifestações existem há muito tempo, pessoas que carregam sua bandeira também. Aliás, muitos brasileiros morreram ou foram torturados e marcados para a vida para nos dizer que poderíamos votar em quem quiséssemos, que as bandeiras e o direito de carregá-las era mais importante que toda a dificuldade de ouvir vozes que dizem algo diferente.

Se não gosta do partido A, B ou C, grite. Não vote nele, defenda seu ponto de vista, se posicione contra. Durante as eleições alerte seus amigos, sua família a não votar no partido que você considera o problema. Mais que isso, durante esse mesmo governo, seja uma oposição consciente. Mantenha sempre os olhos atentos a qualquer erro dos mesmos. Faça com que esses representantes saibam que você está vendo.

Mas atacar, agredir ou impedir que alguém carregue sua bandeira em espaço público é muito semelhante ao que já vimos e vivemos nesse país. E isso me assusta, de verdade.

É... coisa mais difícil essa coisa de liberdade e respeitar o outro... mas eu ainda prefiro a democracia.

"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." - Voltaire.


PS: Já se questionou a quem interessa não ter bandeiras em uma manifestação pública?